sexta-feira, 24 de julho de 2015

Curado de ser grande


Você gostaria de ser famoso? De que maneira?

Desde o início da humanidade o ser humano sempre quis ser famoso. Lembra de Adão e Eva comendo do proibido fruto no intento de serem como Deus?  E dos homens construindo a torre de Babel, ansiando por fazerem seus nomes célebres?

Na verdade, temos essa inquietude por sermos grandes e reconhecidos. Talvez nem todos desejem se tornar alguém mundialmente famoso, mas penso que, por exemplo, em sua área de atuação, sua profissão, dentro de seu círculo de amigos, todos querem ser bem-sucedidos e honrados, você não acha?

Quem não quer fazer coisas grandes para Deus, um grande gesto, algo realmente espetacular, algo grande, que mude a história, deixe um marco, um legado por gerações? Sejamos sinceros, a grandeza está âmago do coração humano!

Entretanto, o que Deus requer de nós? Ele nos pede que façamos as pequenas e insignificantes coisas que constituem nossa vida diária. Não algo realmente espetacular, apenas que amemos o próximo. Não algo absolutamente estupendo, apenas a rotina, os afazeres, entra dia e sai dia, de uma pessoa normal em atividade.

E, quando sentimos que o que estamos fazendo é insignificante e sem importância, Deus nos pede que lembremos que tudo o que fazemos é significativo e importante aos olhos dEle, porque Ele nos ama e nos coloca onde estamos, e ninguém pode fazer o que estamos fazendo exatamente como fazemos.

Há alguns dias, eu tive a honra e o privilégio de conhecer uma missionária chamada Heidi Baker. Para quem não a conhece, ela é um tipo Madre Teresa de Calcutá. Essa mulher, dentre tantos outros projetos tem desenvolvido um trabalho intrigante e exaustivo em Moçambique e em diversas nações. Ela já foi diversas vezes apedrejada, no entanto continua cavando poços de água, construindo escolas, ensinando a Palavra de Deus e vivendo o amor vivo, profundo e real, onde ela passa!

A Heidi me ensinou, não com palavras apenas, que existe sim uma satisfação, uma realização em ser simples, ser pequena, e aprender a, como o apóstolo Paulo dizia, viver contente e estar bem em toda e qualquer situação. Ela me disse:

“Você precisa saber, e até gostar, de estar hospedada num palácio (isso é fácil) e numa casinha de sapé, comer um banquete (quem não quer?) e jejuar por necessidade, dormir numa confortável cama king size (que maravilha!) ou ao relento, no chão duro, em condições desfavoráveis! E, Deus não precisa de pessoas que fazem grandes coisas, mas sim de pessoas que fazem as pequenas coisas com grande amor!”

            Pronto! Essa foi boa! Gostar de passar fome, dormir no chão duro, fazer coisas pequenas? Por essa eu não esperava! Não mesmo! Porém, não é realmente isto o que Deus requer de nós e que nos ensinou com Seu próprio exemplo? Jesus se esvaziou de si, deixou toda a Sua glória e Sua maravilhosa habitação nos mais altos céus, para viver entre nós: Teve Sua primeira cama em uma estrebaria, nasceu numa das mais pobres famílias de sua época, passou a maior parte de sua vida num dos menores e mais insignificantes vilarejos (Nazaré tinha aproximadamente 700 habitantes), e nos relatos dos Evangelhos, vemos que em seu tempo de ministério público, não foram raras as ocasiões em que Jesus dormiu exausto, mudou sua rota para conversar com uma simples alma perdida e salva-la (como no caso da mulher samaritana), sentiu fome e sede, foi humilhado, e mesmo sendo Deus em pessoa nunca deixou de ser simples, pequeno, acessível.

            Davi, o grande salmista, soube ser um simples pastor de ovelhas, um excelente servo do rei Saul, um fugitivo errante entre cavernas e desertos, um rei sábio. Dele, Deus mesmo testemunhou a respeito: “Achei em Davi um homem segundo o meu coração!”. E esse homem exemplar deixou registrada a seguinte oração:

“Senhor, o meu coração não é orgulhoso e os meus olhos não são arrogantes. Não me envolvo com coisas grandiosas nem maravilhosas demais para mim. De fato, acalmei e tranquilizei a minha alma. Sou como uma criança recém-amamentada por sua mãe; a minha alma é como essa criança.”

 Salmos 131:1-2

            Ah, como eu anseio pelo dia, em que de fato e de verdade, estas palavras serão plena realidade em minha vida! Um dia em que meu coração não será orgulhoso nem sedento por grandes coisas, mas tranquilo, quieto, dependente de Deus como um bebê! O dia em que não me importarei nem um pouco com a fama, o reconhecimento e os aplausos. O dia em que a simplicidade e a pequenez serão minhas marcas, e o amor a minha definição! O dia em que compreenderei totalmente que os maiores tesouros não estão nas grandes e tão desejadas coisas, mas nas pequenas e aparentemente insignificantes! O dia em que serei alguém cuja vida glorificará ao único digno de todo aplauso, todo elogio, toda honra: o Dono e Doador de minha vida, de cada dom, de cada capacitação que há em mim. O dia em que Deus será aplaudido por meio de minha pequenez e será engrandecido! Quero ser mais de menos, para que Deus seja mais demais em mim. Quero ser nada, para que Deus seja tudo em mim. Apenas isso, e nada mais!

            E você, o que quer ser? Quer também ser curado de ser grande?

         Deixo-lhe para meditação e inspiração um poema escrito por minha querida amiga Laís, de Uberlândia/MG, uma das poetisas de nosso tempo que mais amo e admiro:

Preciosidade

“Preciosidade está no grande?
Mais valor tem uma pedra gigante
Ou um minúsculo diamante?

Preciosidade está no estrondoso?
Mais valor tem um enorme templo
Ou um pequeníssimo ato de exemplo?

Preciosidade está no admirável?
Mais valor tem um colar de bijuteria
Ou uma única pérola pequenina?

Olhe para a estátua que construí;
Veja depois os destroços que acumulei;
Contudo veja também o simples camponês,
Que não construiu palácios nem suntuosas construções,
Mas furou em seu jardim um poço,
Que até hoje sacia suas gerações.”


Laís Guerra

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